28.6.06

dúvidas...

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Pera matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que e não tenho.
Olhai que de esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não tomo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto.
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dí não sei por quê.
Camões.

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